Por trás das lentes de Matheus Coutinho, um dos maiores fotógrafos da nova geração
VoltarPor trás das lentes de Matheus Coutinho, um dos maiores fotógrafos da nova geração
Em entrevista exclusiva ao site Melina Tavares Comunicação, ele conta detalhes sobre sua trajetória para se tornar um profissional completo, arrojado e extremamente técnico, dedicado à sua paixão
Aos 31 anos de idade, o produtor, fotógrafo, diretor de fotografia e filmmaker, Matheus Coutinho, se tornou um dos maiores nomes no país em sua profissão. Mesmo jovem, ele acumula trabalhos com grandes empresas e marcas como Coca-Cola, FIAT, TV Globo, Nike, Boticário, além de projetos ao lado de dezenas artistas, modelos, esportistas de alta performance, entre outros. Chamado muitas vezes de profissional 360, por seu extenso know-how em diversas áreas, Matheus considera que seu trabalho se pauta em três pilares principais: moda, lifestyle e publicidade. Além disso, em constante desenvolvimento, o profissional agrega agora uma nova frente em seu leque de atuação, voltada para a produção de conteúdo.
Formado em Publicidade e pós-graduado pela Academia Internacional de Cinema, Matheus nasceu em berço cinematográfico, dentro da MAC Produções, fundada há 31 anos (mesma idade de Coutinho) por seu pai Nicodemos Coutinho, uma das maiores referências da época no universo de produção e imagem. Apesar disso, se engana quem acha que ele teve vida fácil por conta desta condição: “Eu que sempre gostei de estudar e entender tudo que acontecia ali dentro. Além disso, eu nunca quis ser conhecido como filho do dono, nunca quis que ninguém me tratasse diferente”. Hoje, os papéis se inverteram, e muitas vezes já se ouvem brincadeiras de que, agora, Nicodemos é quem se tornou o pai de Matheus.
Para conquistar tal respeito e fugir deste estigma, o fotógrafo sempre estudou muito. Ele diz que sempre quis entender tudo a fundo e buscou colocar a mão na massa em todos as etapas dos processos que ocorriam dentro da MAC. Como consequência, Matheus é quem segue atualmente à frente da maior produtora do estado do Rio de Janeiro. Há pouco, foi também convidado para ser sócio-diretor de uma outra produtora, a BIRD.
Uma curiosidade de sua vida pessoal, que se reflete em muitos de seus trabalhos ligados à lifestyle, é que Matheus é apaixonado por esportes radicais. Ele salta de paraquedas, é praticante assíduo de Motocross e não tem medo de se aventurar em novas modalidades.
“Se eu não trabalhasse com isso, talvez a única opção seria praticar algum esporte radical que eu também tenho uma paixão”, conta o produtor, que recentemente experimentou a prática do wakesurf ao lado de Leticia Bufoni e Pedro Scooby, durante a produção de sua minissérie What a trip!. O projeto foi realizado durante uma roadtrip em um motorhome pela Europa, com objetivo de mostrar os melhores locais para a prática de esportes radicais, apresentando atletas que se destacam em suas áreas.
Confira agora a entrevista exclusiva de Matheus Coutinho para o portal de notícias da Melina Tavares Comunicação, onde ele conta tudo sobre seu início na carreira, a trajetória para se tornar um profissional completo, revela alguns dos bastidores por trás do glamour das câmeras e fala também sobre o futuro da profissão:
Matheus, como surgiu de fato o seu amor pelas câmeras na sua vida? Essa sempre foi sua paixão ou em algum momento ela dividiu espaço com outras áreas?
Matheus. Eu costumo dizer que que eu nasci dentro de uma produtora e eu nunca tive opção de querer gostar de outra coisa. Mas isso sempre veio de mim, meus pais nunca me obrigaram a nada. Eu que sempre gostei de estudar e entender tudo que acontecia ali dentro. Além disso, eu nunca quis ser conhecido como filho do dono, nunca quis que ninguém me tratasse diferente. Então eu procurava esconder quem eu era muitas vezes para poder realmente começar do zero.
Para eu ser diretor hoje em dia eu quis de fato passar por todas as áreas e conhecer todas as funções. Um assistente que trabalhe comigo hoje em dia e que não saiba enrolar um cabo eu não tenho como deixar ele operar uma câmera, ir para uma ilha de edição. É todo um processo.
E eu sempre gostei muito disso. De todas as etapas. De todo o universo por trás dessa área. E se eu não trabalhasse com isso, talvez a única opção seria praticar algum esporte radical que eu também tenho uma paixão.
Além da fotografia e do vídeo, você é conhecido por ser um profissional 360, com extenso know how em diversos campos. Como é esse cenário?
Matheus. Eu diria que sempre fui focado em uma tríade: moda, ‘lifestyle’ e publicidade, e agora também estou agregando a produção de conteúdo, tem algumas coisas para rolarem com a Netflix em breve. Então eu enxergo que eu estou descolando da cena, saindo um pouco mais do set e virando um pouco mais pra outras frentes. Antigamente eu operava a câmera, editava, fazia tudo, e agora estou naturalmente deixando isso de uma forma mais solta e dinâmica junto da equipe. Apesar disso, todos que estão comigo sabem que eu vou sempre meter a mão para fazer alguma foto, gravar alguma imagem. Não tem como, é mais forte que eu.
Você traz uma nova estética para o seu trabalho que salta aos olhos, seja nas cores ou nos ângulos de seus trabalhos. O que você pensa para trazer isso?
Matheus. É até difícil responder essa pergunta. Porque para mim, que estou trabalhando com determinados Jobs, clientes, eu procuro ver o que é interessante e funciona para cada caso específico. E o mais legal disso tudo é que, seja para um projeto da Boticário, seja para um projeto da RedBull, as pessoas batem o olho e falam ‘Isso é do Matheus. Isso tem a pegada dele’. E a gente sempre imagina um dia poder criar uma identidade própria em seu trabalho e poder ser reconhecido por isso. Hoje em dia, num cenário onde todo mundo é ‘coach’, dá workshops, dá aulas e acabam se criando cópias da mesma coisa, eu fico muito contente em conseguir ter uma pegada minha.
O que eu gosto de fazer e eu tenho o capricho é de levar ao projeto o estilo, o equipamento e as técnicas que ele precisa. Eu sempre estudei muito e gosto de ser muito técnico. Acredito até que eu não tente fazer nada de diferente nesse sentido de inovar demais. Talvez tenha algumas coisas, como uma certa irreverência, mas o padrão é fazer um feijão com arroz muito bem feito, muito compromissado com a qualidade da entrega final, e que acaba trazendo um pouco do meu estilo pessoal naturalmente.
Quais foram os fatores que levaram a agregar, digamos esse background horizontal?
Matheus. Acho que são várias coisas. Eu sou formado em publicidade e eu nasci dentro de uma produtora, onde se passam por várias etapas e diferentes tipos de projetos. Então eu devo muito aos meus pais. O meu pai sempre foi assim (este profissional completo) e eu penso que eu sou a melhor versão dele. O pessoal brinca que antigamente eu era filho do Nicodemos, e hoje ele é o pai do Matheus.
Um exemplo dessa versatilidade é que estou trabalhando em uma campanha política em que um dos diretores fez a campanha política do presidente. Então eu sei fui escolhido para um trabalho que a equipe tem um nível de exigência muito alto. E eles estão super seguros comigo pois eu entendo muito bem o que precisa ser entregue. Como eu havia dito, eu tenho essa facilidade para enxergar o que o projeto precisa. E eu devo muito isso a minha vida na produtora e de passar por vários clientes. Além disso, eu sou um cara muito estudioso e técnico, e eu não me prendo a apenar um tipo de trabalho. Eu procuro usar todos os recursos e técnicas que aprendi ao longo da minha carreira para entregar exatamente o necessário para aquele trabalho.
Recentemente você se juntou à Leticia Bufoni e ao Pedro Scooby para o What a Trip!, que rodou a Europa atrás de imagens inéditas de esportes radicais. Como você vê a relação entre esporte e fotografia, tanto no pessoal quanto no profissional?
Matheus. Acho que os dois tem uma linha muito tênue em relação à dedicação, à questão de estar sempre no limite, de você se desafiar constantemente. Ao mesmo tempo, também tem a coisa do prazer que aquilo te traz. Tanto no esporte quanto na fotografia você precisa ter tesão e paixão por aquilo que você faz e quando começa a ser algo somente por dinheiro acabou. Não vai mais ter o mesmo resultado. E para mim, que sou apaixonado por esportes radicais, a prática também serve como uma válvula de escape. Eu sou uma pessoa muito acelerada e, principalmente durante esta pandemia, o esporte me ajudou a acalmar e tranquilizar minha mente e minhas angústias.
O What a Trip! foi então, mais que uma viagem de trabalho, de certa forma um período de férias para essa loucura do mundo atualmente?
Matheus. Foi, no sentido de renovar as energias, mas não por outro lado. Não importa onde eu esteja, com quem esteja. Se eu estou com uma câmera na mão e preciso entregar uma imagem, vou ficar obcecado por isso até sair da melhor forma possível. Vou sair da água, trocar de lente, mudar a câmera, procurar outro ângulo, tirar foto atrás de foto, até encontrar o resultado que eu considere perfeito para aquele objetivo. Quando eu pego pra fazer eu mudo. Pode ser um job, mas pode ser também uma foto pro Instagram de um amigo, um stories.. Eu quero fazer o melhor. É algo meu. Talvez porque as pessoas sempre esperaram o melhor de mim, eu acabo me imputando este nível de exigência. Mas, ao mesmo tempo, isso não é algo ruim, pois eu aprendi a separar o pessoal do profissional. Eu não sei em que momento eu consegui ter esse discernimento, onde eu posso ser o mais viciado e exigente com o meu ofício, sem pegar um ranço da minha profissão e atropelar outros momentos da minha vida. Eu tenho meu tempo em que quero ser só eu, fazer outras coisas e não apenas ser o Matheus Coutinho fotógrafo. Eu sou muito pé no chão neste sentido.
E como é você, muitas vezes, ser personagem dentro dos seus projetos. É algo pensado ou que acontece naturalmente?
Matheus. Então, eu sou muito engraçado. Eu sou muito resenha, adoro uma ‘zoeira’. Então acho que isso acontece de uma forma natural. É da minha personalidade. Por consequência eu acabo virando um cara que não é somente um executor, mas também um personagem dentro dos projetos. Não é algo que eu quero, surge naturalmente. E, no final, eu acho muito legal isso.
Falando em viagens, tem alguma outra viagem de trabalho que marcou sua carreira?
Matheus. Acho que a Rússia foi um dos que mais marcaram. Por ser um país que eu não conhecia, apesar de existirem outras viagens que foram inéditas. Tem aquele estigma de você achar que o povo é frio, que as pessoas não se relacionam, mas é completamente o contrário. Não sei se foi por causa da copa do mundo, mas achei um país e uma população incrível. É um país rico demais em vários aspectos. Marrocos também foi muito maneiro, que foi um lugar que conheci de ponta a ponta. É um lugar muito bonito, mas ao mesmo tempo tem a questão de ser extremamente preconceituoso com as mulheres. Também teve a Islândia, que é uma loucura total, no meio do nada. O tempo é muito louco, à meia noite estava sol. Começava o dia com neve, depois ficava calor com sol, então surgia um mini furacão e esfriava demais. Esses eu posso elencar como os lugares mais diferentes e impressionantes que me marcaram.
E saberia elencar um ou alguns trabalhos que considera os maiores desafios de sua vida? Por quê?
Matheus. Eu tenho uma filosofia em que o próximo trabalho é sempre o mais desafiador. Eu considero que sempre posso e devo melhorar a cada job que eu me envolvo então em tese o maior desafio é sempre o que vem em seguida. Eu penso dessa forma. Agora, se eu precisasse elencar um trabalho específico que me tirou da zona de conforto foi um recente que eu fiz para a Boticário. O principal desafio dele foram os bastidores, o relacionamento. Porque eu sempre digo que apertar o ‘rec’, tirar uma foto, fazer uma imagem, todo mundo em tese pode realizar. Mas o difícil, a grande questão da coisa, é chegar até a conquista do projeto. As reuniões, as conversas com os envolvidos, todo o trabalho por trás das cortinas, que não tem o glamour. E nesse trabalho tiveram algumas questões que tornaram ele o mais desafiador. Mas no final, o resultado foi excelente. Deu tudo certo e o cliente ficou satisfeito.
Você acompanhou a evolução tecnológica, as mudanças desde as câmeras com rolo, que precisavam revelar, até os dias de hoje em que qualquer pessoa tem às mãos uma câmera no celular. Como você enxerga essas mudanças para o futuro da profissão? Podem servir de estímulo ou banalizam a fotografia?
Matheus. A tecnologia veio para dar acesso a pessoas que não tinham como entrar nesse mercado. Nesse sentido, foi algo muito bom. Hoje em dia você vê uma garotada nova produzindo novos conteúdos de alta qualidade. Antigamente eu via que existia uma dificuldade grande em relação à equipamentos. Sei disso pois vivi dentro de produtora e meu pai passou por algumas dessas dificuldades. As vezes era necessário importar de fora e era caro. Então você precisava querer muito e imprimir um esforço financeiro e de tempo para realizar esse sonho. Hoje em dia a pessoa compra uma câmera boa, um laptop com memória suficiente e aí você se torna a sua própria produtora.
Porém, o que eu sinto da nova geração, é que eles têm tudo na mão e aparentemente saem na frente, mas falta uma dedicação a mais, que a facilidade acaba impedindo de se desenvolver. No meu tempo não existia o ‘boom’ do YouTube, do Instagram, o máximo que tínhamos era o extinto Orkut. Então muitas vezes falta aquele compromisso, a credibilidade de saber que o profissional vai entregar. Ter tudo na mão traz este certo comodismo. De certa forma, eles saem atrás nesse ponto. Acredito que foi o Jr. Duran que disso que ‘ter uma câmera na mão te torna um registrador de imagens, mas não necessariamente te faz um fotógrafo’. E é por aí. Pocas pessoas estão realmente fazendo fotografia. Que vai desde a composição, paginação o editorial, a produção. Falta o foco, a visão estratégica, técnica, estudo de caso de cada projeto específico. Falta metodologia e profundidade. Então tem um pouco destes dois lados.
Você recentemente se tornou um dos sócios diretores da produtora BIRD. Como foi isso e quais são os seus projetos daqui para frente?
Matheus. O que eu venho percebendo do mercado é que não tem como você ser só de um lugar. Não tem como você centralizar os projetos mais. Então o caminho do mercado está sendo essas parcerias, de você juntar os serviços e as habilidades que a sua equipe pode oferecer com o que outros times podem entregar. Essa união permite você poder aplicar em projetos maiores e mais ambiciosos. Então estou virando um profissional que tenho minha produtora que é minha casa, a MAC Produções, e eu posso unir forças com outras empresas. Ainda tem muito ego dentro do mercado de dizerem que se está traindo suas raízes, mas eu vejo isso com zero problemas. Então eu estou seguindo este caminho de um plano de negócios, onde eu posso mostrar meu trabalho, me destacar, junto de outros grupos que estão evoluindo. É uma soma para desenvolver as duas pontas. E nesse contexto eu fui convidado pela BIRD, que é uma produtora muito focada em publicidade, com muita vontade de crescer e tem um respaldo de um time fantástico que podemos evoluir juntos.
Além disso, tem muitas outras coisas ligadas a diversas frentes, incluindo produção de conteúdo, que vem por aí mas por enquanto não posso adiantar muitas coisas. Só posso dizer que aguardem pois vem novidades por aí!