CHAMELEO: artista moderno, completo e a nova aposta do indie pop nacional
VoltarCHAMELEO: artista moderno, completo e a nova aposta do indie pop nacional
Dono de uma história de superação o cantor curitibano traz em sua música influências de diversos gêneros e a presença de uma atmosfera única
Leonardo Fabbri, mais conhecido como CHAMELEO, é um jovem cantor de 26 anos nascido em Curitiba e dono de uma identidade artística ímpar. O nome artístico é uma referência ao inglês do vocábulo camaleão, animal que esta intimamente ligado a conceitos como mudança, transformação e adaptação. O motivo da escolha se deve ao seu fascínio pelo excêntrico, pelo conceitual e pelo criativo, que se refletem no cantor em uma espécie de metamorfose contínua em relação às suas identidades musical e visual.
O interesse pela arte se iniciou na infância, como uma faísca num palheiro, e não parou mais de crescer: “Desde pequeno eu sempre tive a certeza de que queria trabalhar com alguma forma de arte”, conta o artista, que é formado em produção sonora pela UCLA (University of California), em Los Angeles nos Estados Unidos. A vivência em solo americano agregou para sua bagagem, além da música, um vasto conhecimento em moda e fotografia. Estes aspectos se mostram presentes de forma bem evidente na estética de seu trabalho.
Conversamos com CHAMELEO para conhecer mais do universo deste artista talentoso, que se configura hoje como uma das grandes apostas do indie pop nacional. Confira aqui a entrevista:
A arte e a sua pessoa estão intimamente ligadas desde a infância. Em que momento você percebeu que a arte seria seu ofício, ou isso veio de forma natural?
CHAMELEO. Eu sempre fui essa criança extrovertida, sempre tive esse viés. Eu entrei no teatro com 7 anos de tanto encher o saco da minha mãe de que queria atuar (rs). E, como era um teatro profissional, tive o privilégio de sentir o gosto de estar num palco muito cedo. Quando fiz minha primeira peça, tive a certeza que arte era minha paixão e que era isso que eu queria para minha vida.
E a música, em que momento entrou nesse contexto artístico?
CHAMELEO. Durante meu curso de teatro, quando tinha uns 10 anos, tive que estudar guitarra para uma peça e aí não parei mais. E quanto mais novo, mais fácil de aprender então acabou sendo no timming perfeito. Foi muito legal pois era uma adaptação daquele filme “Escola de Rock”, com o Jack Black, que eu adoro muito. Ali ligou uma chave de que, além de atuar, a música se tornava uma paixão.
Você se formou em produção sonora na University of California, em Los Angeles nos EUA. A Califórnia é o berço do cinema americano, Hollywood é de lá, além de Los Angeles ser um verdadeiro parque de diversões cultural. Foram estes os motivos que te levaram a esta escolha?
CHAMELEO. Eu já havia feito intercambio para os EUA, e depois morei dois anos na Austrália. Nesse meio tempo, precisava convencer meus pais de que música poderia se tornar uma carreira, já que eles vem de uma formação mais tradicional. Então ficou combinado que eu deveria estudar, e ter uma formação especializada na área. Quando voltei ao Brasil, uma amiga que morava na Califórnia e estudava cinema me fez um convite para morar lá e trabalharmos juntos. Influenciado por essa conjuntura, me planejei e alguns meses depois parti para esse novo passo em minha vida. No final, ela acabou por dirigir meus primeiros clipes de fato.
E como a experiência em LA agregou na sua bagagem pessoal e profissional?
CHAMELEO. A minha vontade de ser músico já existia, mas eu ainda era muito tímido. Apesar de escrever minhas canções desde os 14 anos, faltava coragem para expor minha arte para as outras pessoas fora das rodas de amigos, eu era muito cru. Quando eu cheguei em Los Angeles foi uma experiência de certa forma agridoce. Apesar da cidade ser esse berço cultural e respirar arte, é um local muito cruel e competitivo, ainda mais para um imigrante. Isso foi um choque de realidade muito grande, mas que tirei como uma lição em que abri meus olhos, amadureci e percebi que não seria um sonho fácil de alcançar. Agreguei a questão do business, aprendi sobre produção musical, marketing e isso ajudou a me tornar o músico e a pessoa que sou hoje.
Você possui influências antigas, como: Os Mutantes, Pink Floyd e Elvis, além de inspirações atuais, como: Rosalía, Pabllo Vittar e Billie Eilish. Como essa mistura se reflete na sua música?
CHAMELEO. Toda essa galera dos anos 40, 50 e 60 me influenciam de uma forma tremenda, não necessariamente em questão de estilo, mas servem de inspiração assim como as coisas mais atuais. Eu sou eclético em todos os sentidos. Quando eu criei o conceito CHAMELEO, o objetivo era justamente englobar essa transformação e a coisa de não se apegar a uma coisa só. Eu sempre escutei de tudo porque pra mim música boa não tem estilo. Nunca quis me limiar a um estilo, então tanto na música quanto no visual eu procuro pegar um pouco de tudo e ir misturando.
Sobre seu processo de criação musical, como funciona? Como artista eclético, busca um resultado específico e procura beber das fontes para tal, ou você simplesmente deixa a mente livre e trabalha aquilo que vem da sua inspiração?
CHAMELEO. Segunda opção, total!! Geralmente já tenho um conceito, muitas das vez tenho um esboço de letra, mas a criação ocorre naturalmente. Eu penso, ‘ah eu quero algo mais pop frito’ ou ‘quero alguma coisa mais lenta’. Então eu pré defino o estilo, mas a música em si vai se construindo de forma fluida durante todo o processo de criação. No início eu levava a linha de violão já pronta para o estúdio e nós produzíamos em cima disso. Atualmente, nessa pegada um pouco mais pop que me propus, eu chego com o conceito para o produtor e começamos a trabalhar a partir da ideia.
Um dos aspectos que se percebe na sua música é uma ambientação muito forte através das sonoridades exploradas. De onde vem isso?
CHAMELEO. Isso vem muito das influências, principalmente do Pink Floyd. Uma das coisas que eu mais prezo quando eu vou produzir uma música é criar uma atmosfera com a canção, e isso é exatamente o que o Floyd representa pra mim. Essa atmosfera é algo que permanece, diferente de uma música que entra e sai. Você consegue fechar os olhos e ser transportado para algum lugar. É um dos objetivos do meu trabalho, tentar levar essa experiência para quem esta consumindo a minha música, ou um clipe.
Você também trabalha com produção de moda, e isso se reflete de forma bem expressiva nas identidades visuais bem particulares e definidas de seus clipes. Qual é a importância dessa conversa entre a música e o visual?
CHAMELEO. Eu acho que é um conjunto. Os dois andam muito de mãos dadas pois tanto a moda, quanto a dança, a música e atuação são formas de expressão. E, por sempre ser essa pessoa diferente, que gosta do excêntrico, é uma forma de conversar com o espectador e me apresentar de forma completa. A moda começou pra mim quando eu tinha 15 anos, que foi quando eu passei a conhecer as marcas, assistir aos desfiles e isso se tornou mais uma paixão. Considero ela quase tão importante quanto a música pois é uma das maiores formas de como eu me expresso. Às vezes causava alguma polêmica em casa, com as pessoas, por conta do meu jeito de vestir (rs), mas esse sou eu. Então o objetivo é realmente englobar tudo e colocar minha personalidade na música, na moda, na dança e na atuação, transformando em CHAMELEO Style!
Recentemente, você passou por um momento muito delicado, que foi o câncer. Apesar disso, você nunca desistiu, e continuou produzindo e fazendo o que gosta durante o tratamento. Qual papel a música desempenhou para sua recuperação?
CHAMELEO. Foi essencial. A música sempre foi um curativo para mim, uma válvula de escape em todas as situações, e principalmente neste momento, me transformando como artista e como pessoa. Quando eu fui diagnosticado, eu quis desmistificar essa coisa da tragédia. Pensei positivo o tempo todo, e coloquei em mente que o processo não precisava ser triste nem doloroso. Eu sou uma pessoa alegre, pra cima, que conversa com todos, faz piada de tudo e não mudou nada. Acredito que a forma como você lida com a doença tem um impacto enorme no resultado. E, após isso, eu me tornei uma pessoa melhor. Costumo dizer que me tronei uma versão 2.0 de mim (rs). Quando se passa por essa experiência você coloca as coisas em perspectiva. Eu era muito inseguro de várias maneiras, mas a partir da doença isso mudou. Passei a ser mais ligado no hoje e deixei de lado os medos e as amarras. E isso ocorreu durante o tratamento, quando escrevi muitas músicas, gravei clipe careca. Hoje sou uma versão melhorada de mim, apesar das dificuldades. Agradeço pois tudo na vida tem um motivo, um aprendizado e um lado bom que só depende de nós querermos enxergar desta forma.
Você é um indivíduo focado e positivo. Como você lidando com este momento de pandemia? Afetou o trabalho?
CHAMELEO. Durante esse processo todo de quarentena eu consegui ser muito produtivo. Obviamente tenho sorte de possuir condições para ficar em casa com uma boa estrutura. Então aproveitei o momento para escrever muito, produzir bastante, consegui planejar minha carreira. Portanto nesse aspecto, no processo de música, foi algo muito positivo. Em contra partida, sou uma pessoa muito ansiosa e muito inquieta, o que tem sido um desafio. Mas também considero que consegui tirar algo produtivo. Como falei sobre o câncer, acredito muito que a forma como enxergamos e lidamos com a situação influencia no resultado, e esta não é minha primeira quarentena. Por esse motivo usei esse período de reflexão muito focado no lado positivo que consegui levar para minha carreira.