Samile Bermannelli celebra conquista internacional com cabelo afro
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Top baiana, que faz parte do casting da agência Mega Model, está na capa da revista Issue Magazine utilizando dreadlocks
A Mega Model, maior agência de moda da América Latina, existe há mais de 20 anos, sendo responsável pelo desenvolvimento e lançamento das principais tops brasileiras que fazem sucesso mundo a fora. Apresenta um casting formado por grandes modelos, reconhecidas tanto no Brasil quanto no exterior.
Uma delas, Samile Bermannelli, acaba de conquistar um feito internacional, estampando a capa da Issue Magazine utilizando dreadlocks. É uma conquista para a cultura afro, muitas vezes preterida por padrões estéticos predefinidos por uma sociedade em que se entra presente um forte racismo estrutural. Prova disso é que, quando pequena, a top preteria sua origem e desejava ter cabelos lisos.
Aos nove anos, Samile pediu à mãe que fizesse alisamento nos seus cabelos. A pequena baiana de madeixas cacheadas queria andar com os cabelos soltos, mas o grande volume não permitia que o fizesse. “Minha mãe trabalhava muito e não sabia fazer muitos penteados, então sempre optava por aqueles que duravam uma semana inteira. Eu via as meninas na escola com cabelo solto e liso e queria me encaixar no padrão”. Samile ficou refém da química capilar por oito anos. Até que aos 17, um ano e meio após começar a modelar, decidiu cortar os cabelos no estilo big chop e assumir seu afro — a partir de então a modelo viu a carreira decolar.
Seu cabelo sempre foi motivo de diversas reuniões na agência e com clientes. O mercado não absorvia a identidade afro das mulheres negras e impunha o padrão estético de fios lisos de mulheres brancas. “Já vi muitas meninas terem que trançar o próprio cabelo ou ouriçar seu black power nos backstages porque os cabeleireiros não sabem trabalhar com cabelo afro”, conta.
Orgulhosa de suas raízes afrodescendentes, Samile decidiu mudar o mercado. “Eu venho tentando quebrar esse padrão dos cabelos das pretas e mostrar para os clientes que há inúmeras opções, como: tranças, penteados, miçangas e acessórios que eles podem usar”, afirma.
Neste mês, ela viu seu esforço compensar na capa da revista chilena Issue Magazine. Com dreadlocks, a modelo estrela a edição de aniversário de sete anos da publicação, que já teve em suas páginas Coco Rocha, Alexa Chung e Helena Christensen. “Essa capa é muito importante para mim, é o resultado da minha resistência e insistência de que pode dar certo. Se eu olhasse pra trás e falasse pra as minhas agências que eu iria colocar dreadlocks eu provavelmente iria escutar um ‘não’”.
Aos poucos, Samile tem modificado a indústria e empoderado outras mulheres negras a assumirem suas identidades afro. “Confio na beleza da minha ancestralidade e espero ver outras modelos com orgulho da sua pele e do seu cabelo. Não podemos viver inseguras, precisamos lutar pela nossa liberdade estética também”, completa.
A top model da nova geração de brasileiras tem em seu portfólio desfiles para Valentino, Kenzo, Eli Saab, Zuhair Mourad, Marc Jacobs, Miu Miu, Balmain, Victoria’s Secret; campanhas para Dolce & Gabanna e Jacquemus, além de três Vogues Paris, Vogue América, Japão, Reino Unido e Brasil. A baiana já cruzou as passarelas das principais semanas de moda mundiais: Milão, Nova Iorque, Paris e Londres. De acordo com a Vogue Itália, Samile é integra as 50 maiores modelos negras da atualidade.